Paulo da Silva Gonçalves
(Gemeses, Esposende – Portugal, 05-02-1979 --- Layla –
Arábia Saudita, 12-01-2020)
Antes de mais,
devo confessar que não tenho muita simpatia pelos motards… Pelo menos pela
esmagadora maioria daqueles com os quais, de uma forma ou de outra, me cruzei
na vida… Falta de civismo, arrogância e boçalidade, são as “qualidades” que me
saltam mais à mente quando me recordo de alguns… Isto é mera opinião, mas é fruto
de experiência feita em várias e diferentes ocasiões ao longo da minha vivência…
No entanto, também devo salientar igualmente que conheço outros, dos quais até
tenho o privilégio de compartilhar amizade, que são seres humanos magníficos…
Paulo Gonçalves foi alguém enquadrado nesta elite de pessoas, pelo que tantas outras sempre relataram e testemunharam…Para mim, desde o episódio com Cyril Despres (…claro, que tinha de ser um francês montado na “grandeza chauvinista”…) que Paulo Gonçalves mostrou (uma vez mais e aí com mais notoriedade) a enormidade do seu caracter, fair-play e humanismo… Como o povo diz, “Deus leva os melhores e os que mais ama”…e Paulo Gonçalves era enorme entre os melhores e era bastante amado.
Paulo Gonçalves foi alguém enquadrado nesta elite de pessoas, pelo que tantas outras sempre relataram e testemunharam…Para mim, desde o episódio com Cyril Despres (…claro, que tinha de ser um francês montado na “grandeza chauvinista”…) que Paulo Gonçalves mostrou (uma vez mais e aí com mais notoriedade) a enormidade do seu caracter, fair-play e humanismo… Como o povo diz, “Deus leva os melhores e os que mais ama”…e Paulo Gonçalves era enorme entre os melhores e era bastante amado.
O texto que
segue foi publicado por Diogo Pombo, no Tribuna Expresso on-line, no dia
seguinte ao falecimento do Paulo Gonçalves. Na profusão de notícias, artigos e
testemunhos que se seguiram ao fatal acontecimento, a simplicidade deste
escrito é uma perfeita homenagem ao homem, mais que tudo o mais, que foi Paulo
Gonçalves.
Em vida,
Paulo, em vida
Temam-na, abracem-na,
anseiem-na ou venerem-na, a morte é a condição mais certa para os humanos,
creio a mais humana que há, porque nada em nós é tão paradoxal como o momento
em que o coração pára, o sangue trava, os órgãos desligam, o cérebro frena e à consciência
acontece o que vivalma sabe, mas tanta, tantíssima gente, se esforça por
adivinhar, pregar, filosofar e garantir.
A morte é o tema dos
vivos, quem morre é sentido por quem vive, os que se vão são louvados pelos que
ficam e a pessoa que vai sem retorno
não lê, nem ouve, os louvores que os vivos reservam aos enlutados, uma vez
mortos, que me parece a
mais estapafúrdia espera a que os humanos se devotam, já escrevia a
mexicana Ana María Rabatté:
No esperes a que se muera
la gente para quererla
y hacerle sentir tu afecto
en vida, hermano, en vida…
la gente para quererla
y hacerle sentir tu afecto
en vida, hermano, en vida…
Nunca visites panteones,
ni llenes tumbas de flores,
llena de amor corazones,
en vida, hermano, en vida…
ni llenes tumbas de flores,
llena de amor corazones,
en vida, hermano, en vida…
Esperámos que Paulo Gonçalves caísse da moto, o corpo
tombasse na areia, o coração parasse e morresse no deserto, sozinho, entre
grãos de areia onde, dependesse dele, jamais deixaria alguém a solo, para
recordarmos o quão exemplar foi em vida.
No Dakar, o português afundou-se em lama para ajudar quem
mais fundo estava, safar Cyril Després e vê-lo a virar-lhe as costas, sem retribuir a ajuda e
arrancar sem dó, piedade ou companheirismo, qualidades que se dizem humanas e
que Paulo voltou a mostrar, anos depois, quando parou mal viu Matthias Walkner
tombado, a sofrer com ossos partidos, não o abandonando enquanto
não chegasse ajuda.
De Paulo Gonçalves conheci o que deixou na televisão, nos
jornais e em quatro ou cinco telefonemas de trabalho. Era simpático, prestável
e atencioso, não há pilotos, mecânicos, dirigentes e amigos que o desdigam, em
público, desde domingo, invocando a forma como agiu durante os 40 anos que viveu, porque
as palavras de nada valem se os atos não falarem por elas.
Se, na morte, o que se recorda de um desportista é o
homem justo, companheiro, íntegro, prestável, humilde, sempre ajudante e,
apenas depois, o que ganhou a pilotar motos, então no piloto está o melhor
exemplo possível para se ser, e estar, no desporto e em competição. “Não sou um herói, sou um
ser humano com respeito pelos outros”, disse, uma vez, enquanto
modalidades mais praticadas, muito mais vistas, nunca paravam de sugerir que
para ganhar vale tudo, que só se estamos bem se estivermos contra os outros e
que os insultos fazem parte.
Em vida, Paulo Gonçalves foi um
exemplo de como o desporto e a competição apenas valem se, lá dentro, todos
estiveram bem, sãos, saudáveis e forem uns para os outros quando houver quem
assim não esteja. Competir, ganhar e perder deveria sempre vir depois, muito
depois.
Publicado por Diogo Pombo, em
13-01-2020, no Tribuna Expresso on-line https://tribunaexpresso.pt/