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…nessa altura respondi-te, decerto já nem te lembras, mas de uma forma
condicionada pela minha faceta racional ao que pensei que poderíamos ter para
nós…
…e foi uma resposta diferente daquela que gostava de ter dado, porque os
meus desejos para nós dois sempre foram outros, algo mais além, como muitas
vezes te tentei fazer compreender nestes anos que entretanto foram decorrendo…
…e tantos desejos eram esses…
…e simples e belos e distantes…
…queria acordar todos os dias do teu lado, com um “bom dia” da tua voz
rouca de quando despertas…
…queria adormecer contigo todas as noites, sentindo o teu cheiro e o toque
da tua pele, enroscados como dois gatos…
…queria ver o sol nascer, no topo de uma montanha, juntos com canecas de
café quente a escaldar-nos as mãos, com flocos de neve que tu nunca viste a
caírem sobre nós…
…queria deambular contigo, devagarinho, de braço dado, ao longo da praia em
cada fim de tarde, depois de um banho de mar…
…queria voltar a balançar contigo numa cama de rede, numa noite de Verão,
olhando a lua lá no alto e contando as estrelas das constelações dos dois
hemisférios…
…queria pentear o teu cabelo cor de pena de corvo, cada vez que assim o
quisesses…
…queria perder vezes sem conta o meu olhar, em algo tão singelo e tão lindo
como um solo de bailarina, que é ver-te vestir para sair na rua ou tirar a
roupa para te deitares junto a mim…
…queria beijar a covinha do teu pescoço vezes sem conta e deixar-te
arrepiada cada vez que dou dentadas leves no teu cangote…
…queria, em silêncio, sentir os teus olhos se perderem nos meus, como tanto
dizes gostar…
…queria levar-te a conhecer Havana como te prometi quando nos conhecemos e
voltar contigo a Buenos Aires… voltar a todos os lugares onde estive contigo e
ir a muitos mais onde só estive contigo em sonhos…
…queria que me ensinasses a dançar como tanto gostas, apesar de eu ter dois
“pés de gesso” e queria ensinar-te a falar “língua de gringo” para descobrires que
o inglês não é tão difícil como isso…
…queria no auge da Primavera atravessar contigo um campo repleto de
margaridas silvestres que tanto adoras… …descalços, sentindo a frescura da erva…
…queria ficar sentado contigo num qualquer banco duma qualquer praça
verdejante, preguiçando à sombra ou ao sol...
…queria prolongar longos almoços de domingo, pela tarde fora, sem pressas, dividindo
um bom vinho tinto, massajando teus pés pequeninos de menina…
…queria ficar contigo nas noites de inverno, junto do calor de uma lareira,
lendo um bom livro, jogando conversa fora ou simplesmente em silêncio observando
o crepitar da lenha ardendo…
…queria aprender contigo tudo o que sabes e ensinar-te tudo o que sei…
…queria perpetuar cerimoniosamente nossos votos de amor perante todos os
que nos são queridos…
…queria ver nossos cabelos ficarem brancos naturalmente, ver as rugas
adocicar nossos rostos com a passagem do tempo…
…queria contigo mimar os netos dos filhos que nunca tivemos…
…queria ter contigo um longo e prazenteiro voo, em perfeita sincronia, até
ao ocaso das nossas vidas…
…queria, no fim de nossa passagem terrena, que juntassem as nossas cinzas e
as lançassem ao vento, para podermos reencarnar juntos…
…queria, enfim, ter uma vida contigo…
…pelo menos nesta vida…
…até à eternidade…
JP ®
“Whislist” – Pearl Jam
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