(...eu votei nele...😀😁💥)
O sobreiro
“assobiador”, em Águas de Moura.
Tem cerca de 30 metros de diâmetro de copa, cerca
de 17 metros de altura e 234 anos de idade.
A Árvore
Europeia de 2018 é um sobreiro “assobiador” português.
A árvore portuguesa venceu a 8.ª edição do concurso europeu, ao qual
concorreram 13 países. Mais do que uma árvore bonita, procurava-se uma árvore
com história e ligada à comunidade. E isso o sobreiro português tem.
Um
sobreiro português foi eleito esta quarta-feira Árvore Europeia de 2018. O
Sobreiro Assobiador da aldeia de Águas de Moura, no concelho de Palmela, foi
distinguido numa competição que envolveu mais 12 árvores de diferentes países
europeus. A distinção foi anunciada ao final da tarde numa cerimónia no
Parlamento Europeu, em Bruxelas, depois de uma votação online que decorreu em Fevereiro e
contou com cerca de 200 mil votos. Em segundo e terceiro lugar ficaram
ulmeiros espanhóis e um carvalho russo, respectivamente.
“Ficámos
muito contentes. Acho que é muito importante para a floresta portuguesa e para
o sobreiro, que é o nosso símbolo”, reage à vitória Nuno Calado, engenheiro
florestal e secretário-geral da UNAC – União da Floresta Mediterrânea,
responsável pela participação portuguesa. “Espero que este prémio alerte para a
importância da floresta portuguesa e para os sistemas agro-florestais, como o
sobreiro e o montado, porque são muito importantes para o Sul de Portugal.” Ao
todo, a árvore portuguesa teve 26.606 votos. O engenheiro florestal, que esteve
na cerimónia em Bruxelas, conta que virá para Portugal um troféu feito com
madeira de diferentes espécies, que será entregue à Câmara Municipal de
Palmela. Ficará um ano em Portugal e, para ano, será passado ao novo vencedor.
(…)
Esta é a 8.ª edição do prémio Árvore Europeia do Ano,
organizado pela Associação de Parceria Ambiental (EPA) e inspirado num concurso
da República Checa, que foi transposto para a Europa em 2011. Se nesse ano
concorreram apenas cinco países, este ano já foram 13. Além de Portugal, Rússia
e Espanha, participaram a Hungria, Reino Unido, Eslováquia, Lituânia, Roménia,
Polónia, Bulgária, República Checa, Croácia e a Bélgica.
Este foi o primeiro ano em que Portugal participou. “A UNAC [membro da
Organização dos Proprietários Rurais Europeus – ELO, que apoia o concurso e
desafiou Portugal] entrou este ano enquanto entidade organizadora a nível
nacional”, indica Nuno Calado. Como este era o “ano zero” para Portugal, a
organização do concurso propôs que fosse a UNAC a escolher uma árvore. “Escolhemos
um sobreiro porque é a árvore nacional de Portugal. Tendo de escolher um
sobreiro, escolhemos o assobiador que é o mais icónico”, explica Nuno Calado,
acrescentando que esta árvore está classificada pelo Instituto da Conservação
da Natureza e Florestas (ICNF) como “árvore
de interesse público”desde 1988. Além
disso, é formalmente reconhecido como o sobreiro mais velho de Portugal e o
maior do mundo que se conhece.
O sobreiro (Quercus suber) em Portugal tem uma forte
representação na economia. “A fileira da cortiça exportou em 2017 quase mil
milhões de euros”, salienta Nuno Calado, dizendo que até se têm criado novos
produtos e aplicações, como no design e na inovação. “Há ainda a questão
territorial: através do sobreiro e da cortiça conseguimos fixar populações,
criar emprego e gerar receitas para as populações locais e os produtores
florestais.”
O sobreiro ocupa cerca de 800 mil hectares em Portugal. “Tem uma
importância muito grande a nível do ecossistema”, diz o engenheiro florestal.
“Não é um habitat natural e o homem tem de intervir para manter aquela
estrutura típica do montado, que lhe confere as mais-valias ambientais e
ecológicas que tem enquanto suporte para o habitat de espécies como o
lince-ibérico ou a águia-real.”
Na cerimónia, minutos antes do anúncio dos resultados, o biólogo
português Humberto Delgado Rosa, ex-secretário de Estado do Ambiente e actual
director do programa Capital Natural da Comissão Europeia, também afirmou que
esta árvore era “muito significante para Portugal neste momento”. “Como se
lembram, enfrentámos mega-incêndios catastróficos no Verão”, disse, destacando
que o sobreiro é uma árvore especializada em resistir ao fogo.
Namoros e conversas à
sombra
Por todas
estas razões escolheu-se o Sobreiro Assobiador. Estima-se que tenha sido
plantado há 234 anos. Tem cerca de 30 metros de diâmetro de copa e cerca de 17
metros de altura. “É conhecido como o Sobreiro Assobiador, porque como tem uma
copa muito larga – que apesar da idade avançada está em boas condições –, quer
ao nascer do dia que ao pôr do Sol as aves pousam na sua copa e fazem um
chilrear imenso. Daí o nome da árvore”, conta Nuno Calado. E, se ao longo da
sua vida lhe extraíram cortiça mais de 20 vezes, agora isso já não acontece.
“Já está na reforma”, brinca.
“O concurso não procura a árvore mais bonita esteticamente, mas sim
uma árvore com uma história, uma árvore enraizada nas vidas e no trabalho das
pessoas e da comunidade que a rodeia”, lê-se num comunicado da UNAC. E o
Sobreiro Assobiador já testemunhou muitas histórias ao longo dos
anos. Por exemplo, também lhe chamam “casamenteiro”, porque muitas gerações de
apaixonados namoraram sob a sua copa. Nuno Calado destaca ainda que há uns anos
grupos de ciganos casavam e faziam festas na sua sombra. Agora, mesmo no meio
da aldeia de Águas de Moura, tem uns banquinhos e uma vedação de madeira feita
pela Câmara Municipal de Palmela. Por isso, à tardinha, muitas pessoas
sentam-se sob a sua copa a conversar e a usufruir daquele espaço.
E o que nos pode ensinar esta árvore anciã?
“Representa algo muito comum na floresta que é a actividade florestal e o
investimento florestal como um investimento intergeracional”, considera Nuno
Calado. Portanto, há neste sobreiro uma intemporalidade. “A floresta tem outro
ciclo [diferente do imediatismo do dia-a-dia]: pensa-se como vai ser a paisagem
daqui a 40 anos e como é vai ser gerida para que seja melhor. É investir a
pensar nos outros.”
A UNAC já tem planos para a próxima edição do concurso. “Vamos replicar o
concurso a nível nacional. Ou seja, haverá um júri que escolhe entre dez a 12
árvores e essas árvores estarão num site para serem votadas
pelos portugueses”, explica Nuno Calado. Depois, a árvore mais votada representará
Portugal no concurso europeu em 2019. Esperemos que siga os passos do Sobreiro
Assobiador.
In “Público” online, 21 de Março de 2018