…chove, outra vez…
…muito, batida a vento…
…corpo inerte e cansado, cabeça a mil à hora,
afastando-te do leito…
…as paredes da casa parece que
te encurralam, esmagando-te, como uma implosão dentro de ti, um sufoco
incontrolável…
…ar… precisas de ar… precisas de
sentir que ainda estás vivo, apesar de sentires o coração bem presente, em batimentos
regulares, dessincronizado com a mente onde se atropelam sentimentos
contraditórios…
…breves minutos, um instante
tão rápido talvez que nem dás por ele e estás ao relento, com água purificadora
a cair-te em cima dos ombros e o vento norte a fustigar-te o rosto…
…caminhas sem destino certo…
apenas sabendo que precisas andar, andar, andar… caminhar até o cansaço te
embalar… até te afastar todos os pensamentos…
…a madrugada aproxima-se, ainda
escura de inverno, mas ouves aqui e ali os primeiros cantos dos pássaros, ainda
no aconchego dos seus ninhos…
…tirando isso, silêncio… apenas
o silvar dos automóveis a passarem na via rápida a um quilometro de distância,
o chapinhar das gotas que caem do céu e o arrastar suave das tuas botas no chão…
…do nada (ou das profundezas do
teu inconsciente) surge-te na memória uma frase que há muito tempo viste
escrita, em letras negras e gigantescas, num muro do outro lado do Tejo…
…”uma pancada nos olhos faz ver”…
…hoje levaste uma dessas
pancadas…forte…embora já esperada…mas duvidas que te abra definitivamente os
olhos, porque o teu coração é cego e parece que coloca uma venda na visão, que
devia ser objectiva, do teu raciocínio lógico…
…inspiras fundo, sentido o ar
refrescante da terra e da relva molhada que agora te rodeia…
…as luzes dos mais madrugadores
acendem-se como pirilampos imóveis nos prédios em teu redor, fazendo agora companhia
à luz trémula dos candeeiros da rua…
…querias deixar extinguir a
chama débil de vida que ainda te vai mantendo de pé e renascer... sem
memórias de nada da tua outra vida… deixar de sentir e de pensar… encarnar em
algo mais simples que um ser humano, talvez…
…mas, claro, isso não acontece…
apenas a chuva continua a cair do céu, cor de breu, e o vento forte faz oscilar a tua
figura imóvel no meio do nada…
…ouves trovejar ao longe…longe…
muito longe…
…e lentamente regressas à tua toca…
JP ®
Só mais uma volta
Só mais uma volta a mim
Só mais uma volta desta ninguém vai cair
Só mais uma vez que vês que ninguém está aqui
Queres só mais uma volta desta ninguém vai cair
Só mais uma volta a mim
Só mais uma volta desta ninguém vai cair
Só mais uma vez que vês que ninguém está aqui
Queres só mais uma volta desta ninguém vai cair
Tempo frio afasta o tempo que nos afastou
Primavera lança o laço que nos amarrou
Tempo quente dá vontade de não resistir
Vai só mais uma volta desta ninguém vai cair
Primavera lança o laço que nos amarrou
Tempo quente dá vontade de não resistir
Vai só mais uma volta desta ninguém vai cair
E ainda te sinto a seguir o rasto que deixo a
correr
Ainda penso em ti... pensa em mim, mas só mais uma vez.
Ainda penso em ti... pensa em mim, mas só mais uma vez.
Diz-me ao que queres jogar que eu vou querer
também
Diz-me quanto queres de mim para te sentires bem
Não te vejo bem ao longe não sei distinguir
Queres só mais uma volta e desta ninguém vai cair
Diz-me quanto queres de mim para te sentires bem
Não te vejo bem ao longe não sei distinguir
Queres só mais uma volta e desta ninguém vai cair
Ainda te sinto a seguir o rasto que deixo a
correr
Ainda penso em ti... pensa em mim, mas só mais uma vez.
Ainda penso em ti... pensa em mim, mas só mais uma vez.
Diz-me quanto tens de honesto quanto tens de bom
Diz-me quantas provas queres diz-me quanto sou
Já não sinto nada dentro não sei perceber...
Vai só mais uma volta, desta ninguém vai dizer.
Diz-me quantas provas queres diz-me quanto sou
Já não sinto nada dentro não sei perceber...
Vai só mais uma volta, desta ninguém vai dizer.
Ainda te sinto a seguir o rasto que deixo a
correr
Ainda penso em ti... pensa em mim, mas só mais uma vez.
Ainda penso em ti... pensa em mim, mas só mais uma vez.
In “Só
Mais Uma Volta” – Tiago Bettencourt & Mantha
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