terça-feira, 6 de outubro de 2015

Não te amo…

"Não te amo..."

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma --- tenho a calma,
A calma --- do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida --- nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.


Almeida Garrett - "Não te amo" in “Folhas Caídas” (1853)


2 comentários:

  1. ...Entendo bem o "porquê" de teres "amado" este poema, Madalena...
    ...E recebe as minhas felicitações e homenagem...tens um blog belo, crú, intenso, terno, forte, delicado, cortante e poderoso nas palavras e nos sentimentos ... http://fflyingthoughts.blogspot.pt/ ...
    ...O qual me causou na sua leitura (ainda não completa) sentimentos contraditórios porque releva o que já sabia intimamente: ...ter em mim, muitas vezes, o efeito de "gostar e magoar" a mesma pessoa em simultâneo...e tu entendes muito bem o que quero dizer com isto...
    ...beijo & xi-coração, 'miga...

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