…devolvo-te tudo o que me deste …
…fragmentos, pedaços, momentos
de uma parte (muito feliz e sonhadora) da minha vida…
…mas devolvo-te, e que também me deste, silêncio, mentira, hipocrisia,
dissimulação, deslealdade e muita (des)ilusão… durante todo esse tempo e mais ainda depois…
…desejo que encontres a felicidade na tua vida… e não da mesma forma
como o desejaste uma vez para mim… …e sabes que o digo, como sempre te disse
tudo: com sinceridade e directo, sem rodeios, sem máscaras, naquilo que
gostavas de ouvir ou não, nas situações boas e más, no bem e no mal, mais
cerebral ou mais de alma e coração… mas sendo sempre eu……
…não te devolvo o meu coração (vou guardá-lo num cantinho qualquer da
minha toca, onde, antes de tu entrares na minha vida, estava sossegado e
adormecido por falta de acreditar), porque ele tem um sentimento que foi meu,
sentido e verdadeiro, em que sempre acreditei, mesmo que agora estilhaçado… e
que, na verdade, tu sempre tiveste nas tuas mãos e nunca quiseste de verdade…ou
apenas terás querido ter em sonhos, apenas na tua mente, isolado de tudo, de
todos à tua volta e do teu mundo…
…e que até quiseste partilhar comigo: esses sonhos… isolada (e me
isolando) de todos e tudo o mais… e apenas isso… mas nunca quiseste partilhar o
amor verdadeiro e completo… e isso é algo que eu mais lamento (entre outras
mais)…
…o teu coração e o teu amor não te posso devolver porque, afinal,
constato que nunca os tive…
…devolvo-te os beijos, as juras eternas que me sussurraste no ouvido e
escreveste no papel, as noites de amor, os olhares e as carícias trocadas, os
momentos felizes… (…mesmo sabendo muito
bem que o que sempre retiveste e recordas mais de mim foram os maus momentos…eu
que sempre te disse que não sou perfeito…muito longe disso, aliás…)
…devolvo-te todas as noites passadas sem sono contigo e que, feliz
como uma criança, depois vi o sol nascer… e devolvo-te também todas as noites em branco que passei sem ti...
…devolvo-te todos os segundos que passámos juntos…
…devolvo-te todas as palavras que me escreveste e falaste que, no fundo
vejo, sempre foram um discurso oco, lançado ao vento…
…devolvo-te todas as canções, musicas, poemas, pensamentos, lugares,
palavras, experiências, sentimentos, sonhos que acreditei partilhar contigo…
…devolvo-te a esperança de ser feliz, que tu um dia plantaste em mim… ser
feliz com uma mulher que, realmente, amei …
…devolvo-te todas as vezes que me disseste que me amavas … porque
espero que te recordes que te disse mais que uma vez que essa palavra (amo-te)
para mim é sagrada e quanto demorei a soltá-la para ti (e depois repeti tantas
vezes sempre com gosto e ciente de estava falando) porque não a entrego assim a
ninguém… de forma fácil… apenas abrindo a boca e falando…
…devolvo-te as lágrimas que te vi e ouvi chorar e que dizias ser por
mim ou por nós e o sofrimento que dizias sentir por isso…eu que, tentando
suavizar tudo, tentava também puxar-te para cima e para proteger-te de mais
dor, nunca fiz por chorar na tua frente, nem fiz muito por mostrar quanto
sofria por ti… e só eu sei quanto chorei também e quanto sofri…sozinho…
…não te devolvo a minha alma porque é eterna…e não é verdadeiramente
minha, afinal… já deve ter passado por muitas vidas, pousou na minha agora e,
porventura, irá viver outras… certamente
melhores que esta…
…e não te devolvo a mulher que conheci frágil, só, carente, algo triste
e algo sem esperança que conheci há anos atrás e a quem dei amor, “alegria,
ânimo, juventude e possibilidades de sonhar sem limites” (…estas palavras
escritas são tuas e estão escritas aqui na minha frente, com a tua caligrafia,
com a palavra “amor” repetida no resto do texto…mas mais uma vez, são apenas
palavras, não é …?)
…e não te devolvo até porque essa mulher já não existe (e ainda bem)
porque a vi renascer para a vida nos anos que passaram até hoje… e essa mulher
também já não existe por outros motivos (para meu lamento)… penso até que nunca terá mesmo existido…
quiçá, apenas nos meus sonhos… que até já desaprendi de sonhar de novo…
…devolvo-te tudo o que te dei (…a minha vida inteira e eu inteiro
também…) e devolvo-te tudo o que me deste (…quase nada, apenas uma miragem de
felicidade…)
JP ®
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