…é sempre
assim que começa aquele estranho e já muito familiar ritual que tenho desde que
descobri colocar em palavras os meus pensamentos, os meus sentimentos, os meus
anseios, os meus fantasmas, as minhas recordações…
…às vezes
mais lentamente, outras em delírio desenfreado sobre o papel… sempre com a mão
direita, a mente a comandar os movimentos, com impulsos também dados pelo batimento
do lado esquerdo do peito…
…ainda hoje o
processo é assim porque é mais intuitivo, instintivo e natural em mim, mesmo
que depois transfira as linhas escritas em tinta para este caderno digital e as
guarde nesta gaveta virtual, sem chave, aberta para quem quiser espreitar
dentro dela…
…e tantas
foram já as folhas de que escrevi, deitei fora ou perdi na vida… …reescrevendo ou
criando outras também…
…às vezes só, apenas eu e o silêncio, noutras
situações com a companhia da magia da música que embala a escrita, acaba por
ser uma espécie de catarse, misturada de prazer e dor, simultânea ou alternadamente…
…e é também um
abraço apertado que dou em redor de mim próprio e que tento esticar para o
mundo, quando não me escondo dele…
…tento assim, talvez, encontrar respostas
sobre tantas perguntas que continuam em mim e ao meu redor…
…é tantas vezes
um despejar de emoções, de forma muito
simplista e “naif”, porque gostava e não tenho a arte de transformar em
palavras e frases belas e compostas, tudo o que sinto e queria dizer,
transmitir para fora de mim…
…até o próprio
acto em si (escrever) e que sentimentos contrários ou antagónicos provoca em
mim, não consigo descrever em palavras
escritas, de forma tão poética ou sintética como outros bem mais sábios que eu
conseguem fazer…
“Devemos escrever
para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros”
―Eugène Ionesco
―Eugène Ionesco
“Escrever é que é o
verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial.”
―Virginia Woolf
―Virginia Woolf
“Escrever não é fácil ou
difícil, mas possível ou imposível.”
―Camilo José Cela
―Camilo José Cela
“É bom escrever porque
reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar para uma multidão.”
―Cesare Pavese
―Cesare Pavese
“Escrever é fácil. Começas
com uma letra maiúscula e terminas com um ponto final. No meio colocas idéias”
―Pablo Neruda
―Pablo Neruda
“Escrever é ter a
companhia do outro de nós que escreve.”
―Vergílio Ferreira
―Vergílio Ferreira
“Escrever é também não
falar. É calar-se. É gritar sem fazer ruído.”
―Marguerite Duras
―Marguerite Duras
“Escrever é não esconder
a nossa loucura.”
―Arnaldo Jabor
―Arnaldo Jabor
“Às vezes escrever uma só
linha basta para salvar o próprio coração.”
―Clarice Lispector
―Clarice Lispector
“Escrever é como fazer
amor. Não te preocupes com o orgasmo, preocupa-te com o prazer.”
―Isabel Allende
―Isabel Allende
“Escrever deve ser uma
necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo
respirar.”
―Anaïs Nin
―Anaïs Nin
“Escrever é uma maneira
de falar, sem sermos interrompidos.”
―Luis Felipe Angell de Lama a.k.a. Sofocleto
―Luis Felipe Angell de Lama a.k.a. Sofocleto
…
por consciência das minhas limitações e por nem sequer me querer comparar ou
tocar de forma indelével que seja a genialidade de qualquer uns desses exemplos
acima vertidos, nunca poderei conseguir ser assim, simples e brilhante…
…o
que escrevo são notas singelas, amiúde tontas e sem interesse… palavras que se
atropelam por vezes tentando exprimir da melhor maneira algo… são pensamentos
difusos e, quem sabe, sem nexo para quem os lê… são um conjunto de vocábulos
que tantas vezes não consigo articular na oralidade, apenas na solidão do “eu,
comigo próprio”… são mensagens, são estórias, são cartas sem destino…
…mas
são minhas palavras, porque não me quero socorrer, como tantos outros fazem, de
bonitas frases célebres para dar sentido a sentimentos que nem sentem de
verdade nas suas vidas, mas que fica bem mostrar para os outros que sim …
…são
as minhas palavras, sentidas, pensadas, escritas… mesmo em torpel de ideias ou mal
interpretadas, elas emergem do meu “eu” mais profundo, sem máscaras e nascem
para depois jazer na tal folha branca, vazia que recebe nela decalcada um pedaço
de mim quando, no fim, pouso a caneta e descanso os olhos…
…e
o espírito também, por momentos…
JP ®
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