sábado, 24 de novembro de 2012

Pérolas 018



Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.


Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.



In “Cavalo à Solta” – Viviane (Rua da Saudade)


Cavalo à solta…

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.
Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Minha laranja amarga e doce
minha espada
poema feito de dois gumes
tudo ou nada

Por ti renego, por ti aceito
este corcel que não sossego
à desfilada no meu peito

Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura

Minha ousadia
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.

In “Cavalo à Solta” – José Carlos Ary dos Santos (Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 — Lisboa, 18 de Janeiro de 1984)

99%.Perfect

     ...moi-même...

Pérolas 017



     (...dedicada à "tal"...)


Nossa casa tinha tecto janela e fogão
e uma vista pra olhar você
nossa casa tinha frutas flores e canção
e um relógio pra esquecer

nosso tecto tinha lua
que cabia na tua mão
pôs no saco a viola
me levou embora o chão

pôs no saco a viola
me levou embora o chão

No natal tinha cereja e maçãs do amor
meus presentes pra te dar
carnaval tinha um montão de cachoeira
e você pra desfilar... pra mim

eu voava de tapete
você ia de balão
depois você foi embora
foi nas asas do avião

depois você foi embora
foi nas asas do avião

mas eu fiquei
me levantei
e o sol nasceu pra mim
no meu quintal
nasceu novo jardim

eu acordei
me espreguicei
olhei pela janela
no meu jardim
nasceu flor amarela

eu acordei
me espreguicei
olhei pela janela
no meu jardim
nasceu flor amarela


In “Jardim de Inverno” – Pierre Aderne & Susana Félix



…Joly, o “meu” cão…

JP ®

…Sempre fui um “cat person” como dizem nos States, ou seja, um amante de gatos e que sempre teve gatos como animal de estimação… detesto esta expressão “animal de estimação”… …afinal de contas, tenho mais para mim os animais que dividiram a vida comigo como amigos… e os amigos, esses sim, os que realmente são, têm estima por nós e nós por eles…  estima compreenda-se aquele sentimento de prazer por estar com alguém…
Daí que quando o Joly entrou na minha vida e na vida da minha família (porque afinal ele é o cão da família) fiquei um pouco expectante… Sabia que não poderia estar sempre com ele, porque ficar com ele dentro de um apartamento em Lisboa para mim era inconcebível… Não entendo como se pode deixar um animal um dia inteiro fechado em casa durante uma semana inteira, pontuado por saídas rápidas e apressadas pela manhã ou ao princípio da noite para o habitual passeio “higiénico”, acrescidas (dependendo dos donos) por um passeio um pouco mais longo no fim-de-semana (…se não estiver a chover…)
Assim, o Joly ficou a viver no campo, com os meus pais, ao ar livre e puro, rodeado de verde e disfrutando dos mimos da minha mãe…
Lá cresceu e vive até hoje, juntamente com os gatos todos (7) que vivem também lá e que trata como “irmãos”, excepto na hora das refeições… depois de comer, tudo volta ao normal e os bichanos até podem ir degustar o resto da comida que deixou…
Quando o Joly chegou até nós, devia ter uns dois ou três meses de idade, devia ter o tamanho de um gato adulto … e era engraçado vê-lo, lado a lado, com a Kaipira, a Nika e o Niko (…os gatos que existiam então…), em tropelias à volta da casa, dividindo refeições, explorando o mundo…
Lembro-me que ele tinha um boneco de estimação, um palhaço feito de pano de várias cores, que ele levava quase para todo o lado onde fosse, sendo que até dormia como ele… o boneco era quase do tamanho dele e era até hilariante vê-lo carregar o seu “amigo” na boca, tropeçando várias vezes, mas sempre determinado e resoluto… como continua a ser… e teimoso…
Ele tem uma personalidade muito forte e particular… tanto que, em pouco tempo, ficou bem conhecido no lugar onde vive… já me aconteceu ter ido passear com ele e reconhecerem o Joly e quase de certeza nem faziam ideia de quem eu era… Essencialmente, caracterizam o pobre do bicho por ser mau e feroz… nada mais errado… O Joly não é nada disso…aliás, é um ser com os sentimentos mais puros e nobres que conheço… e quando falo num “ser”, incluo os humanos que já conheci ou conheço…
Essa maldade ou ferocidade que lhe é atribuída resulta simplesmente do seu sentimento de protecção extrema que ele tem da “sua famíla” (nós e os gatos incluídos…) e do seu espaço…  Sempre que alguém estranho entra ou ronda o espaço sagrado do nosso canto, ele saí para a defesa de todos e de tudo… E fora do seu espaço, se estivermos por perto, passa-se o mesmo… antes que alguém possa chegar perto dos seus, ele mostra que está ali para protegê-los…  algo admirável, para um rafeiro que tem cerca de meio metro de altura e cuja envergadura, à priori, nem impressiona por aí além, mas cuja a força e, em especial, a inteligência não se deve subestimar…
Apesar do conforto do seu lar, por vezes gosta (agora bem menos) de ir dar uma volta… (para grande preocupação da minha mãe…) Quando sente o cheiro de uma cadela com cio nas redondezas ou apenas porque lhe apetece, arranja forma de sair e andar por fora por uns tempos… às vezes mesmo com um resto da corrente agarrado à coleira…
Uma vez “vestimo-lo” com um daqueles coletes ergonómicos feitos para cães, essencialmente usado para passeio… mas passou o dia com ele colocado… e, provavelmente, a meio da noite apeteceu-lhe dar uma “voltinha”… De manhã, o seu lugar habitual, junto da sua casota, estava vazio…mas o colete estava lá, intacto… como se o cão se tivesse simplesmente evaporado…
E fez isso mais que uma vez com aquele colete colocado… Durante muito tempo foi um verdadeiro mistério a forma como ele conseguia se livrar daquilo… até uma vez a minha mãe viu… e o bicharoco revelou-se um verdadeiro Houdini, como aquele truque mítico de se livrar das correntes de ferro… esticava-se para trás até conseguir retirar as quatro patas (e depois o resto do corpo…) do empecilho que o segurava e assim ficava livre, deixando o colete inteirinho, preso na corrente… um verdadeiro artista…
Artista e um ser de sentimentos nobres…e de uma sensibilidade como raramente senti alguma vez (humanos, incluídos…) … Sei que estou a repetir esta ideia, mas ela é tão verdade que acredito piamente que aquele bicho não é normal… acho que ele tem alma até…
Alma, sim… porque o Joly tem reacções próprias de quem sente de forma diferente da maioria dos animais, ditos, irracionais… Alegra-se (e como…) quando vê alguém da família, franze a testa quando se sente confuso ou admirado com algo, rosna quando está irritado com alguma coisa ou com as pessoas, fica “doidão” quando o levo para passear (de dia, de noite, ao sol, à chuva) ou simplesmente quando me ouve falar com ele no telemóvel, sorri com os olhos e com a língua de fora quando está satisfeito… e chora (…sim, chora…) quando sente que vou deixá-lo por mais uma temporada… lágrimas autênticas que lhe correm pelo focinho… Há muitas coisas que me impressionam nele, mas nada me tocou mais que isto…
...Exceptuando talvez, também, o sexto sentido que ele tem para sentir quando as pessoas estão doentes ou débeis (…como acontecia com o meu avô paterno e como acontece com o meu pai) …e mesmo também a memória que ele tem das pessoas de quem gosta, como acontecia com o meu avô e que o cão, depois de o velhote falecer, fez por tentar localizar incessantemente quando o levei à casa dos meus avós, pela primeira vez depois de ele ter partido deste mundo…
O “Jolas”, apesar da sua jovialidade e boa saúde (…muito graças à minha mãe, que inclusivamente já o resgatou da morte certa por envenenamento…) vai fazer 13 anos em Maio do ano que vem… o que, para um cão, já é uma idade bastante apreciável…
Sei que, como quase tudo neste mundo, ele não é eterno… um dia vamos perdê-lo e, para mim, vai ser equivalente a perder um amigo ou alguém da família …e de certeza absoluta que me vai doer mais do que a perda de alguns supostos amigos meus ou mesmo que alguns meus familiares… porque dele tive sempre para comigo sentimentos puros, honestos, leais, desinteressados, verdadeiros… fossem quais fossem esse tipo de sentimentos…porque ele, apesar de quase “humano”, é incapaz de me decepcionar com mentira, hipocrisia, duplicidade, desonestidade e outros “mimos” que já provei dos ditos “animais racionais” com quem já me cruzei na vida…
...e é incrível como um animal ainda me faz acreditar nas pessoas, até mais que elas próprias o fazem...
…como costumamos dizer: “O Jolas é o maior…”

JP ®

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pérolas 016



(...saudades de quando sentia a minha vida assim...;
video-clip realizado numa das cidades que mais amo: Buenos Aires)

E gira gira il mondo e gira il mondo e giro te
mi guardi e non rispondo perché risposta non c'è
nelle parole
bella come una mattina
d'acqua cristallina
come una finestra che mi illumina il cuscino
calda come il pane ombra sotto un pino
mentre t'allontani stai con me forever

lavoro tutto il giorno e tutto il giorno penso a te
e quando il pane sforno lo tengo caldo per te ...
chiara come un ABC
come un lunedì
di vacanza dopo un anno di lavoro
bella forte come un fiore
dolce di dolore
bella come il vento che t'ha fatto bella amore
gioia primitiva di saperti viva vita piena giorni e ore batticuore
pura dolce mariposa
nuda come sposa
mentre t'allontani stai con me forever

bella come una mattina
d'acqua cristallina
come una finestra che mi illumina il cuscino
calda come il pane ombra sotto un pino
come un passaporto con la foto di un bambino
bella come un tondo
grande come il mondo
calda di scirocco e fresca come tramontana
tu come la fortuna tu così opportuna
mentre t'allontani stai con me forever

bella come un'armonia
come l'allegria
come la mia nonna in una foto da ragazza
come una poesia
o madonna mia
come la realtà che incontra la mia fantasia.
Bella !
 In “Bella” – Lorenzo Jovanotti

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

…aaaahhhhaaaahhiiiii….a (puta da) minha vida…



(...ainda hoje chegou e já ardeu quase todo... foda-se !!!...)

Embora falar da arte
Da arte de sobreviver
Daquela que se descobre
Quando não há que comer
Há os que roubam ao banco
Os que não pagam por prazer
Os que pedem emprestado
E os que fazem render
Este dia a dia é duro
É duro de se levar
É de casa pró trabalho
E do trabalho pró lar
Leva assim uma vida
Na boínha sem pensar
Mas há-de chegar o dia
Em que tens de me pagar
Ai é o dia
De S. Receber
Dia de S. Receber
Já não chega o que nos
Tiram à hora de pagar
É difícil comer solas
Estufadas ao jantar
De histórias mal contadas
Anda meio mundo a viver
Enquanto o outro meio
Fica à espera de receber
Ai é o dia de S. Receber
Dia de S. Receber
Ai a minha vida
Ai a puta da minha vida
É assim esta diálise
Entre o deve e o haver
Sei que para o patrão custa
Enfrentar este dever
O dinheiro para mim não conta
Eu trabalho por prazer
Mas o dia que eu mais gosto
É o dia de S. Receber
In “Dia de S. Receber” – Xutos & Pontapés




segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Pérolas 015




No one can love me the way that you do
Yeah, i was the captain of my own ship of fools
I fled to the ocean, i aimed for the stars
So your face was a light that kept me saved from the dark
(…)

I jumped to the water, i swam to the shore
Turned up at your doorstep, i slept on your floor
I woke up in panic, i dreamt you were gone
You're gone, you're gone
I stood there in silence with the damaged i've done
But now it's done, it's done

In “A Cry 4 Love” – David Fonseca

domingo, 18 de novembro de 2012

Pérolas 014




ô ô ô ô ô ô, lá lá lá... a a a
Tive razão
Posso falar
Não foi legal, não pegou bem
Que vontade de chorar, dói
Em pensar que ela não vem, só dói
Mas pra mim tá tranquilo, eu vou zoar
O clima é de partida,
Vou dar sequência na minha vida
E de bobeira é que eu não estou,
E você sabe como é que é, eu vou
Mas poderei voltar quando você quiser!
ô ô ô ô ô ô, lá lá lá... a a a
Demorô vai ser melhor...


 In “Tive Razão” – Seu Jorge


Pérolas 013




Amigos como sempre
Dúvidas daqui pra frente
sobre os seus propósitos
é difícil não questionar.
Canto do telhado para toda a gente ouvir
os gatos dos vizinhos gostam de assistir.




Enquanto a musica não me acalmar
não vou descer, não vou enfrentar
o meu vício de ti não vai passar
e não percebo porque não esmorece
ao que parece o meu corpo não se esquece.


In “Vício de Ti” – Mesa

Memórias do século passado II - …love comes quickly… (London Bridge)

 

…um frio de cinco graus na noite da véspera de sexta-feira santa e eu a ferver por dentro…
…encostado contra a tijoleira da parede de um bar-club meio manhoso perdido no meio de Highbury …manhoso, mas com uma boa banda ao vivo, pelo menos pareceu-me depois das primeiras 3 ou 4 cervejas, com um shot de Jack Daniels, pelo meio…

…vou abanando a cabeça, no mesmo ritmo compassado do som da bateria que se junta ao imenso som que enche a sala, pequena para os decibéis debitados pelo PA no palco tacanho…

…guitarra, baixo e “drums”, trio clássico de uns tipos simpáticos e esforçados, que já tinham debitado para o povo clássicos dos Kinks, The Clash, Cream e Eric Clapton, Dire Straits, Beatles (do álbum Branco…),  e até George Thorogood (banda sonora perfeita para o ambiente envolvente)…
…e a Sharon rebola na minha direcção com mais um pint de Guiness em cada mão, ao som da batida…

…larga as duas na mesa de pé alto e tasca-me um beijo longo, esmagando o seu peito generoso contra o meu…  loira de cabelo liso e curto, pele branquinha e olho azul, divorciada e independente (muito), bem solta para uma britânica a rondar os 30…praticamente mais dez anos que um puto como eu… e agora já imaginam porque disse que estava a “ferver” apesar do fresquinho londrino…
…conheciamo-nos há quatro dias e parecemos lapas…  descobrimos afinidades, para além e antes da cama, apesar de evidente diferença de idades e vivências …late brunchs, museus, exposições e algum passeio ou "shopping around" até ao fim da tarde, jantar quando nos apetece, umas voltinhas à noite e muito sexo até começar a quase raiar o dia… 

…dois encores e meia hora mais tarde, os últimos clientes deslizam até ao balcão para a final round antes do fecho e nós dois deslizamos para dentro do nevoeiro lá fora, enrolados um no outro…
…passados cinco minutos, chega um táxi que ela já tinha chamado antes de sairmos (está alegremente zonza, mas não bebeu o juízo, a mulher…)

…arrasta-me para o carro, enquanto solta um “good night” e indica o destino da corrida ao cabbie, um gordinho sisudo e de bigode grisalho…
…arrancamos para sul, para a outra margem do Tamisa, num ritmo certo e dentro dos limites de velocidade, distinta da voragem das línguas e dos toques íntimos que vamos trocando no banco de trás, com a Sharon praticamente sentada nas minhas pernas, perante a aparente indiferença de quem nos guia pelas ruas já meio desertas…

…as luzes no nosso trajecto adquirem um brilho mais forte quando começamos a atravessar a London Bridge, passando sincopadamente, iluminando as nossas sombras aquecidas pela paixão carnal…  
“Love comes quickly, whatever you do  /  You can't stop falling …Ooh …ooh…”

 …a banda sonora da noite mudou agora… se até há pouco tempo atrás estava a curtir rock e um pouco de blues, agora é um pop electrónico suave, que sai da rádio sintonizada, que nos embala até casa dela…
…suavemente, também, ela vai beijando o meu pescoço e arranhando suavemente a minha barriga, onde as suas mãos já brincavam, descendo pouco a pouco…

“You can live a life of luxury
If that's what you want
Taste forbidden pleasures
Whatever you want”
(…continua a música…)

 …ela pressiona um pouco mais o corpo em cima de mim, olha-me nos olhos, faiscando a claridade dos seus à medida que os candeeiros se sucedem e rasga um sorriso matreiro, sentindo algo que a deixou assim…

…a minha mão direita, tacteia no interior da sua saia comprida,  até encontrar uma humidade quente que a faz engolir em seco… e devolvo-lhe o sorriso, respondendo-me ela com um leve estremecimento e uma quase imperceptível mordidela no ombro…
“Love comes quickly, whatever you do  /  You can't stop falling …Ooh …ooh…”   (vai repetindo o refrão no éter)

…”We need to calm down, love…” sopra-me no ouvido, enquando deixa escorregar as coxas grossas de cima do meu colo e se senta ao meu lado direito, piscando o olho, indicando subliminarmente o taxista…
… enrosca-se a mim, dormitando e olho para a rua… poucos minutos intensos passaram e apenas agora vamos a sair da London Bridge…

…cerro os olhos e continuo a ouvir a melodia…

“You can fly away to the end of the world
But where does it get you to?
'Cause just when you least expect it
Just what you least expect”

 “Cotton Row.”, anuncia o anafado condutor, passando algum tempo, soltando-me do meu semi-torpor …
…largo as libras para pagar a corrida e saio estendendo a mão para recolher a Sharon de encontro ao meu tronco…

… ladeamos os York Gardens, brincando e rindo baixinho, com ela, atracada com os braços nas minhas ancas, aquecendo as mãos debaixo do meu casacão negro, com a cabeça apoiada no meu ombro… (ela teria sensivelmente a minha altura, mas com os seus saltos altos ficava mais alta do que eu…)
…no conforto cálido da sua casa, enrolados um no outro durante a noite, cobrimos (uma vez mais) o leito de saliva e suor, numa noite sem sono…

…sob a madrugada, com um robe cor-de-rosa felpudo da Sharon vestido, fiz um tic-tac-toe pelos azulejos da cozinha, segurando um café quente nas mãos e debrucei-me por uma janela da sala, olhando o rio…
…como muitas coincidências estranhas na minha vida, um piso acima, a mesma musica que,  horas antes, me tinha guiado até ali, soltou-se no ar até chegar aos meus ouvidos…

“Sooner or later, this happens to everyone /  To everyone
Love comes quickly, whatever you do  /  You can't stop falling …Ooh …ooh…”                          

…sentido a falta do meu calor na cama, a loira surpreendeu-me abraçando-me por trás e  encostando os seios alvos nas minhas costas… “I miss you”, sussurrou rouca de sono…
…como dizia a canção não era o amor que haveria de surgir mais tarde na minha vida (verdadeiro e como o entendo hoje...e, curiosamente, até a própria letra da música entendo-a hoje, naturalmente, de forma diferente), mas foi uma tremenda e intensa paixão que durou quase duas semanas até terminarem as férias pascais…

JP ®


"Love Comes Quickly" - Pet Shop Boys





...intenso vazio...

...quando a chama se extingue por completo, sobram as cinzas que se evaporam, sopradas pela mais leve brisa ou pela mais forte ventania que, dantes, não apagava o fogo intenso...


JP ®

domingo, 11 de novembro de 2012

Pérolas 012





Quando tá escuro e ninguém te ouve
Quando chega a noite e você pode chorar
Há uma luz no túnel dos desesperados
Há um cais de porto pra quem precisa chegar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando, vê se não vai demorar
É noite longa por uma vida curta
Mas já não me importa basta poder te ajudar
E são tantas marcas que já fazem parte
Do que sou agora mas ainda sei me virar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando vê se não vai demorar

É noite longa por uma vida curta
Mas já não me importa, basta poder te ajudar
E são tantas marcas que já fazem parte
Do que sou agora mas ainda sei me virar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando vê se nao vai demorar

In “Lanterna dos Afogados” – Maria Gadu (cover de um original de Os Paralamas do Sucesso)




Pérolas 011

(dedicada à minha eterna metade inatingível)





Todos caminhos trilham pra a gente se ver
Todas as trilhas caminham pra gente se achar, viu ?
Eu ligo no sentido de meia verdade
Metade inteira chora de felicidade

A qualquer distância o outro te alcança
Erudito som de batidão
Dia e noite céu de pé no chão
O detalhe que o coração atenta


Todos caminhos trilham pra a gente se ver
Todas as trilhas caminham pra gente se achar, né ?
Eu ligo no sentido de meia verdade
Metade inteira chora de felicidade
A qualquer distância o outro te alcança
Erudito som de batidão
Dia e noite céu de pé no chão
O detalhe que o coração atenta


Todos caminhos trilham pra a gente se ver
Todas as trilhas caminham pra gente se achar, né ?
Eu ligo no sentido de meia verdade
Metade inteira chora de felicidade
A qualquer distância o outro te alcança
Erudito som de batidão
Dia e noite céu de pé no chão
O detalhe que o coração atenta


Você passa, eu paro
Você faz, eu falo
Mas a gente no quarto sente o gosto bom que o oposto tem
Não sei, mas sinto, uma força que embala tudo
Falo por ouvir o mundo, tudo diferente de um jeito bate
Todos caminhos trilham pra a gente se ver
Todas as trilhas caminham pra gente se achar, viu ?
Eu ligo no sentido de meia verdade
Metade inteira chora de felicidade


A qualquer distância o outro te alcança
Erudito som de batidão
Dia e noite céu de pé no chão
O detalhe que o coração atenta
In “Tudo Diferente” – Maria Gadu




...café (moreno) com leite (branco) na cidade da garoa...




























…a espera...
...a ansiedade…
…o toque na porta…

…a primeiro troca de olhares…

…o olhar intenso,  curioso, assustado …dela…
…o olhar feliz, deleitado, hesitante …dele…

…a revelação e a materialização real em corpo, frente a frente, de duas almas gémeas de alguns pensamentos, ideais e sentimentos…
…as primeiras palavras…

…o primeiro toque de mãos…

…o primeiro abraço com sobressalto…
…o primeiro beijo meio a medo…

…os primeiros sabores e suspiros unidos…
…a partilha intima da primeira noite juntos…

…o adormecer abraçados com o coração a bater a mil à hora…
inolvidável e irrepetível…


JP ®


sábado, 10 de novembro de 2012

…remar, remar… forçar a corrente…


…dedicada a todos os políticos e apaniguados que nos destroem a vida aos poucos desde 1974, dedicada à Angela Merkel, à Troika, ao FMI, aos vampiros de Wall Street, aos tecnocratas da EU, aos banqueiros usurários e aos analistas e comentadores hipócritas…
…dedicada a todos que, apesar de tudo e da raiva e do desespero crescente, ainda acreditam que pode existir uma vida melhor…




Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas
Todas as tuas explosões
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Redundam em silêncio
Nada me diz



Berras às bestas
Que te sufocam
Em abraços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor
Remar remar
Forçar a corrente
Ao mar, ao mar
Que mata a gente
Nada me diz



In “Remar, Remar” – Xutos & Pontapés


"O homem do leme" (acrílico sobre tela, by Anabela Faia)