sábado, 24 de novembro de 2012

…Joly, o “meu” cão…

JP ®

…Sempre fui um “cat person” como dizem nos States, ou seja, um amante de gatos e que sempre teve gatos como animal de estimação… detesto esta expressão “animal de estimação”… …afinal de contas, tenho mais para mim os animais que dividiram a vida comigo como amigos… e os amigos, esses sim, os que realmente são, têm estima por nós e nós por eles…  estima compreenda-se aquele sentimento de prazer por estar com alguém…
Daí que quando o Joly entrou na minha vida e na vida da minha família (porque afinal ele é o cão da família) fiquei um pouco expectante… Sabia que não poderia estar sempre com ele, porque ficar com ele dentro de um apartamento em Lisboa para mim era inconcebível… Não entendo como se pode deixar um animal um dia inteiro fechado em casa durante uma semana inteira, pontuado por saídas rápidas e apressadas pela manhã ou ao princípio da noite para o habitual passeio “higiénico”, acrescidas (dependendo dos donos) por um passeio um pouco mais longo no fim-de-semana (…se não estiver a chover…)
Assim, o Joly ficou a viver no campo, com os meus pais, ao ar livre e puro, rodeado de verde e disfrutando dos mimos da minha mãe…
Lá cresceu e vive até hoje, juntamente com os gatos todos (7) que vivem também lá e que trata como “irmãos”, excepto na hora das refeições… depois de comer, tudo volta ao normal e os bichanos até podem ir degustar o resto da comida que deixou…
Quando o Joly chegou até nós, devia ter uns dois ou três meses de idade, devia ter o tamanho de um gato adulto … e era engraçado vê-lo, lado a lado, com a Kaipira, a Nika e o Niko (…os gatos que existiam então…), em tropelias à volta da casa, dividindo refeições, explorando o mundo…
Lembro-me que ele tinha um boneco de estimação, um palhaço feito de pano de várias cores, que ele levava quase para todo o lado onde fosse, sendo que até dormia como ele… o boneco era quase do tamanho dele e era até hilariante vê-lo carregar o seu “amigo” na boca, tropeçando várias vezes, mas sempre determinado e resoluto… como continua a ser… e teimoso…
Ele tem uma personalidade muito forte e particular… tanto que, em pouco tempo, ficou bem conhecido no lugar onde vive… já me aconteceu ter ido passear com ele e reconhecerem o Joly e quase de certeza nem faziam ideia de quem eu era… Essencialmente, caracterizam o pobre do bicho por ser mau e feroz… nada mais errado… O Joly não é nada disso…aliás, é um ser com os sentimentos mais puros e nobres que conheço… e quando falo num “ser”, incluo os humanos que já conheci ou conheço…
Essa maldade ou ferocidade que lhe é atribuída resulta simplesmente do seu sentimento de protecção extrema que ele tem da “sua famíla” (nós e os gatos incluídos…) e do seu espaço…  Sempre que alguém estranho entra ou ronda o espaço sagrado do nosso canto, ele saí para a defesa de todos e de tudo… E fora do seu espaço, se estivermos por perto, passa-se o mesmo… antes que alguém possa chegar perto dos seus, ele mostra que está ali para protegê-los…  algo admirável, para um rafeiro que tem cerca de meio metro de altura e cuja envergadura, à priori, nem impressiona por aí além, mas cuja a força e, em especial, a inteligência não se deve subestimar…
Apesar do conforto do seu lar, por vezes gosta (agora bem menos) de ir dar uma volta… (para grande preocupação da minha mãe…) Quando sente o cheiro de uma cadela com cio nas redondezas ou apenas porque lhe apetece, arranja forma de sair e andar por fora por uns tempos… às vezes mesmo com um resto da corrente agarrado à coleira…
Uma vez “vestimo-lo” com um daqueles coletes ergonómicos feitos para cães, essencialmente usado para passeio… mas passou o dia com ele colocado… e, provavelmente, a meio da noite apeteceu-lhe dar uma “voltinha”… De manhã, o seu lugar habitual, junto da sua casota, estava vazio…mas o colete estava lá, intacto… como se o cão se tivesse simplesmente evaporado…
E fez isso mais que uma vez com aquele colete colocado… Durante muito tempo foi um verdadeiro mistério a forma como ele conseguia se livrar daquilo… até uma vez a minha mãe viu… e o bicharoco revelou-se um verdadeiro Houdini, como aquele truque mítico de se livrar das correntes de ferro… esticava-se para trás até conseguir retirar as quatro patas (e depois o resto do corpo…) do empecilho que o segurava e assim ficava livre, deixando o colete inteirinho, preso na corrente… um verdadeiro artista…
Artista e um ser de sentimentos nobres…e de uma sensibilidade como raramente senti alguma vez (humanos, incluídos…) … Sei que estou a repetir esta ideia, mas ela é tão verdade que acredito piamente que aquele bicho não é normal… acho que ele tem alma até…
Alma, sim… porque o Joly tem reacções próprias de quem sente de forma diferente da maioria dos animais, ditos, irracionais… Alegra-se (e como…) quando vê alguém da família, franze a testa quando se sente confuso ou admirado com algo, rosna quando está irritado com alguma coisa ou com as pessoas, fica “doidão” quando o levo para passear (de dia, de noite, ao sol, à chuva) ou simplesmente quando me ouve falar com ele no telemóvel, sorri com os olhos e com a língua de fora quando está satisfeito… e chora (…sim, chora…) quando sente que vou deixá-lo por mais uma temporada… lágrimas autênticas que lhe correm pelo focinho… Há muitas coisas que me impressionam nele, mas nada me tocou mais que isto…
...Exceptuando talvez, também, o sexto sentido que ele tem para sentir quando as pessoas estão doentes ou débeis (…como acontecia com o meu avô paterno e como acontece com o meu pai) …e mesmo também a memória que ele tem das pessoas de quem gosta, como acontecia com o meu avô e que o cão, depois de o velhote falecer, fez por tentar localizar incessantemente quando o levei à casa dos meus avós, pela primeira vez depois de ele ter partido deste mundo…
O “Jolas”, apesar da sua jovialidade e boa saúde (…muito graças à minha mãe, que inclusivamente já o resgatou da morte certa por envenenamento…) vai fazer 13 anos em Maio do ano que vem… o que, para um cão, já é uma idade bastante apreciável…
Sei que, como quase tudo neste mundo, ele não é eterno… um dia vamos perdê-lo e, para mim, vai ser equivalente a perder um amigo ou alguém da família …e de certeza absoluta que me vai doer mais do que a perda de alguns supostos amigos meus ou mesmo que alguns meus familiares… porque dele tive sempre para comigo sentimentos puros, honestos, leais, desinteressados, verdadeiros… fossem quais fossem esse tipo de sentimentos…porque ele, apesar de quase “humano”, é incapaz de me decepcionar com mentira, hipocrisia, duplicidade, desonestidade e outros “mimos” que já provei dos ditos “animais racionais” com quem já me cruzei na vida…
...e é incrível como um animal ainda me faz acreditar nas pessoas, até mais que elas próprias o fazem...
…como costumamos dizer: “O Jolas é o maior…”

JP ®

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