sábado, 10 de novembro de 2012

…a esmeralda perdida…

…nuns dias cinzentos da minha vida, tive a bênção de uma pedra preciosa cair, por capricho do destino, em meu regaço…


…como uma esmeralda, irradiava brilho em todo seu esplendor, mesmo que quando a conheci estivesse um pouco baça, meio zonza das bofetadas da vida… afinal um pouco tal como eu…

…mas não deixava de brilhar com aquela luz intensa e própria dela e eu próprio sempre tentei fazer ela resplandecer mais ainda, lapidando-a com carinho, tentando puxar para a vida o fulgor maior que sentia que ela tinha ainda mais (mesmo que, por vezes, fosse incompreendido nisso)...

…e fazia-o sempre para minha felicidade, amor e devoção… que sempre acreditei mútuos… mesmo que eu, comparado com ela, não passasse de um vulgo pedregulho de basalto… belo na sua negritude, mas por vezes bem pesado e duro no trato…

…por desapego e falta de crença em sonhos que ela me teimava cultivar com carinho na minha cabeça dura e muitas vezes racional em demasia, acabei por deixar escapar, meio inconscientemente, essa esmeralda do meu colo, trocando-a momentaneamente por outra pedra… nada que se parecesse com ela, em valor, em quilate, em esplendor ou em magnificência… apenas uma outra…

…e, pelos deuses, como magoei imenso aquela magnífica jóia… magoando-me junto também…

…o tempo passou, a esmeralda viveu sua vida e o basalto andou, como quase sempre na sua vida, aos tombos por aí…

…e acabaram por se cruzar de novo na vida porque, talvez por qualquer equação química ainda desconhecida, parece que as esmeraldas e os basaltos se atraem… vá se lá saber porquê…

…a esmeralda continuava brilhante, talvez até mais resplandecente…

…o basalto mais negro, mais duro e mais marcado que antes…

…e acabou por atingir que, por muito que a tal equação química doida de atracção mútua possa existir, a esmeralda tinha encontrado na sua vida e escolhido, há muito tempo, para ter junto a si outra pedra de igual luz e fulgor que acentuavam a vulgaridade da mera rocha que ele era… e não queria (como, no fundo, não quisera antes, decerto) um calhau como aquele a estragar toda a beleza e o perfeito arranjo que a rodeava na sua joalharia organizada e temperada que era a sua vida…

…assim, o basalto ficou no meio da pedreira escura, onde a linda esmeralda um dia derramou sobre si a sua luz intensa e dela guardou a recordação da sua cor…. verde… cor associada ao sentimento que um dia ela plantou nele….  a esperança… sentimento vil e perigoso porque  leva-te da imensa crença ao desespero enlouquecedor à medida que o tempo vai passando… até esse sentimento, por fim, perder a sua cor…

 …talvez daí o basalto ser negro…



JP ®

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