…como uma
esmeralda, irradiava brilho em todo seu esplendor, mesmo que quando a conheci
estivesse um pouco baça, meio zonza das bofetadas da vida… afinal um pouco tal
como eu…
…mas não deixava
de brilhar com aquela luz intensa e própria dela e eu próprio sempre tentei
fazer ela resplandecer mais ainda, lapidando-a com carinho, tentando puxar para
a vida o fulgor maior que sentia que ela tinha ainda mais (mesmo que, por
vezes, fosse incompreendido nisso)...
…e fazia-o sempre
para minha felicidade, amor e devoção… que sempre acreditei mútuos… mesmo que
eu, comparado com ela, não passasse de um vulgo pedregulho de basalto… belo na
sua negritude, mas por vezes bem pesado e duro no trato…
…por desapego
e falta de crença em sonhos que ela me teimava cultivar com carinho na minha
cabeça dura e muitas vezes racional em demasia, acabei por deixar escapar, meio
inconscientemente, essa esmeralda do meu colo, trocando-a momentaneamente por
outra pedra… nada que se parecesse com ela, em valor, em quilate, em esplendor
ou em magnificência… apenas uma outra…
…e, pelos
deuses, como magoei imenso aquela magnífica jóia… magoando-me junto também…
…o tempo
passou, a esmeralda viveu sua vida e o basalto andou, como quase sempre na sua
vida, aos tombos por aí…
…e acabaram
por se cruzar de novo na vida porque, talvez por qualquer equação química ainda
desconhecida, parece que as esmeraldas e os basaltos se atraem… vá se lá saber
porquê…
…a esmeralda
continuava brilhante, talvez até mais resplandecente…
…o basalto
mais negro, mais duro e mais marcado que antes…
…e acabou por
atingir que, por muito que a tal equação química doida de atracção mútua possa existir,
a esmeralda tinha encontrado na sua vida e escolhido, há muito tempo, para ter
junto a si outra pedra de igual luz e fulgor que acentuavam a vulgaridade da
mera rocha que ele era… e não queria (como, no fundo, não quisera antes, decerto)
um calhau como aquele a estragar toda a beleza e o perfeito arranjo que a
rodeava na sua joalharia organizada e temperada que era a sua vida…
…assim, o
basalto ficou no meio da pedreira escura, onde a linda esmeralda um dia
derramou sobre si a sua luz intensa e dela guardou a recordação da sua cor…. verde…
cor associada ao sentimento que um dia ela plantou nele…. a esperança… sentimento vil e perigoso porque leva-te da imensa crença ao desespero
enlouquecedor à medida que o tempo vai passando… até esse sentimento, por fim,
perder a sua cor…
…talvez daí o basalto ser negro…
JP ®
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